Eis aí um tema bem ao gosto dos "filósofos de botequim". Não que eles sejam adeptos do fortianianismo porque, entre eles, a grande maioria é cética, o que é exatamente o oposto. Gostam porque é um tema instigante, controverso, desafiador. Melhor ainda: porque não foi resolvido e não é, nem nunca será um assunto banal ou desgastado.
Desde que conheci essa turma, com a qual acabei me envolvendo e dela fazendo parte, conheço a discussão e até já participei de várias delas. Há quatro anos, vez por outra, voltamos ao assunto. Mas, confesso, hoje é um tema que ainda me intriga e incomoda, mas já não me atrai tanto para o debate, porque conheço o resultado final : uns acham que existem, outros que não; uns acham que existem explicações lógicas e absolutamente naturais, outros que não; alguns arriscam definições e outros sequer admitem a validade dos termos, dizendo ser apenas nomes que atribuímos a eventos que desconhecemos. E por aí vai, sem se chegar a qualquer consenso, até que a discussão seja reaberta, em um outro dia, que ninguém sabe quando será.
Interessante de notar é que essa "tchurma" leva mesmo a discussão a sério: estudam, pesquisam, trazem provas (ou o que eles julgam ser provas), fazem citações, invocam filósofos, cientistas, místicos, parapsicólogos e pesquisadores. Com esse arsenal, tentam defender ferrenhamente suas convicções ou meros pontos-de-vista. Mas tudo em vão, pois o único consenso provisório a que chegam, assim mesmo, por maioria simples e não por unanimidade, são os que resumo abaixo:
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- Sorte e azar existem, mas as causas e circunstâncias que disparam esses eventos e os mecanismos como se processam são absolutamente desconhecidos;
- Sobre a sorte e o azar, só conhecemos os efeitos, mas ninguém, em qualquer ramo do conhecimento humano, no passado ou no presente, conseguiu explicar convincentemente como, quando, nem por que esses eventos ocorrem;
- Há que se distingüir o que é "sorte" ou "azar" daquilo que é provocado pela lei da causalidade e/ou do imponderável. Se é rotineiro, e conforme sejam as conseqüências positivas ou negativas, pode-se dizer que é "sorte" ou "azar", desde que independa das ações do agente. Se acontece uma única vez, com ou sem interferência do agente, é um resultado ou casualidade, perfeitamente natural; se acontece sucessivamente, mas com interferência das ações do agente, provocando o resultado, também é um fato perfeitamente natural;
- Fatos isolados, que aconteceram apenas uma vez, por mais grandiosos ou bizarros que sejam, jamais devem ser rotulados como "sorte" ou "azar";
- Sorte ou azar, pressupõem resultados positivos ou negativos, recaindo repetidamente (ou, pelo menos, mais de uma vez), sempre sobre a mesma pessoa, independentemente de suas ações.
- O imponderável (tomado como substantivo e em seu sentido figurado) existe e pode ser definido como aquilo que não se pode medir, avaliar ou prever, podendo acontecer em qualquer momento e em qualquer lugar, sem causas aparentes ou por causas desconhecidas. Nada se pode fazer para evitá-lo.
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Como se vê, os debates não são de todo improdutivos, pois permitem algumas conclusões. Mas não respondem o principal:
O que é a sorte e o azar? Como e por que acontecem? Como se pode provocar ou evitá-los? Esta, nem Freud, nem nenhum outro psicanalista ou filósofo,ou místico, cientista ou pensador, explica. Talvez um Charles Fort (1874-1937), o maior pesquisador de coisas insólitas, precursor do realismo fantástico (por alguns chamados fortianismo) e maior desafiador da ciência, conseguisse explicar. Mas ele jamais tentou isso. Louis Pauwels e Jacques Bergier, também pesquisadores de coisas insólitas, não quiseram se aventurar a explicar e arriscar sua reputações.
Já Richard Wiseman, em seu clássico livro "The Luck Factor" (
O Fator Sorte) tentou explicar o fenômeno mas nada conseguiu, transformando o seu livro em mais uma literatura de autoajuda. A grande Ciência, capaz de explicar tantas coisas, inclusive fenômenos da física quântica e até do mundo microscópico, das profundezas da terra e dos oceanos, dos universos paralelos e de tantas coisas inimagináveis para nós, mortais comuns, não se atreveu a deslindar o que sejam sorte ou azar.
A definição que parece ser a mais mais aceita e divulgada para a sorte é a do pensador Elmer Letterman: "
Sorte é o que acontece quando a preparação encontra a oportunidade". O que ele não explica é porque a oportunidade chega sempre para quem não a espera, não está preparado e, mesmo assim, colhe os frutos positivos.
O desafio e a pergunta não respondida:
Preocupado em deslindar o mistério e já cansado de procurar em outras fontes, tanto em língua portuguesa, como em Inglês, Francês e Espanhol, resolvi colocar a pergunta abaixo no freqüentadísimo site do Yahoo! Respostas (só para testar, porque as respostas lá encontradas são de muito pouca confiabilidade):
SORTE e AZAR existem? Se sim, você saberia explicar como e por que ocorrem?
Sei de antemão que muitas pessoas irão falar que isto não existe e que tudo depende do nosso "livre arbítrio", que somos nós mesmos quem influenciamos o nosso próprio destino, que tudo é resultado das nossas ações, que é só uma superstição, etc. etc. Mas os fatos da vida real demonstram que alguma coisa ainda inexplicável ocorre e que existem pessoas que sem nada fazer de positivo, são bafejadas pela sorte, tudo dando certo, e outras que, por mais que se esforcem, tomem cuidados, planejem, façam as coisas certas, não a têm e tudo dá errado. Já procurei explicações em livros religiosos, filosóficos, metafísicos e científicos e nada encontrei. Não consegui encontrar nenhum sábio, filósofo, cientista, médico, parapsicólogo ou quem quer que fosse que pudesse explicar os porquês e os mecanismos da sorte e do azar. Vocês poderiam dizer o que pensam sobre o assunto e onde achar a resposta?
Dentre as várias resposta que apresentaram, não obtive nenhuma satisfatória. Já esperava por isso (e continuo esperando, até hoje).
Exemplos de "sorte e de "azar"
Muitos são os exemplos que se poderiam dar de "sorte", de "azar" e também do "imponderável". Note-se, porém, que o "imponderável" – aquilo que acontece inesperadamente, sem estar previsto e em hora inoportuna -, é perfeitamente normal e pode ter conseqüências positivas ou negativas.
Seguem, abaixo, alguns poucos exemplos, meramente ilustrativos para que se notem as diferenças (casos reais e hipotéticos):
1) A morte de Michael jackson: Um show foi cuidadosamente preparado e planejado, as datas estavam marcadas, ingressos já haviam sido vendidos, os ensaios quase terminados, o cantor envolvido, sem sinais aparentes de nenhuma doença grave, os patrocinadores e integrantes confiantes no sucesso (e certamente o seria) e, de repente... o astro morre. Aqui, agiu o IMPONDERÁVEL, ocorrência normal;
2) Um acidente aéreo ou automobilístico ocorre, todas as pessoas, menos uma, morrem. A que escapou saiu quase ilesa, com apenas leves escoriações. Aqui, não agiu a imponderabilidade porque acidentes aéreos e automobilísticos estão dentro das possibilidades esperadas e nada têm de anormal. Nem mesmo o caso de haver apenas um único sobevivente. Ocorrência normal. Acidentes aéreos e rodoviários não podem ser considerados como anormalidades.
3) Um estudante pede demissão do seu emprego, seus pais lhe pagam o melhor cursinho pré-vestibular, ele leva a sério, estuda, tira as maiores notas em todos os simulados, sente-se preparado para brigar pelo primeiro lugar. Horas antes da prova adoece, pega 40 graus de febre e mais um desarranjo intestinal violento e perde a prova. Mais uma vez, agiu o imponderável, e não o azar. Ocorrência normal;
4) O mesmo carinha acima parte para a segunda tentativa e, no ano seguinte, no dia do exame, pega um trânsito engarrafado por causa de acidente, fica preso, se atrasa e... perde a prova. Mais um ano se passa, ele parte para a terceira tentativa, um outro incidente ocorre e ele perde, de novo, a prova. Aqui já agiu o azar. As ocorrências foram sucessivas, fugiram da normalidade e revelaram uma tendência negativa. Explicações? Não tem;
5) Um apostador, com apenas um volante de aposta mínima, acerta sozinho a mega-sena acumulada. Ocorrência normal (alguém, teria de ganhar), se for uma única vez. Mais de uma, em curto espaço de tempo, já passaria a ser sorte; Explicações? Não encontrei nenhuma convincente.
6) Um caso verídico: um senhor, não habituado a jogar em loterias, encontra um volante de lotomania preenchido, preso no parabrisas do seu carro; amassa-o e joga fora. No dia seguinte, a mesmíssima cena se repete e, então, ele resolve pegar o volante e joga 3 reais na lotomania, ganhando 2.700 reais. Paga algumas dívidas e, na mesma semana, resolve jogar 12 reais na mega-sena e ganha de novo, sozinho, desta feita, 18,9 milhões de reais. Aqui, sem sombra de dúvidas, agiu a sorte. Explicações? Não tem. Somando tudo, foram 4 acontecimentos, do mesmo tipo, na mesma semana. Pode-se dizer, como querem alguns, que são meras "coincidências"?
-Link para a matéria "Sortudo ganha 2 vezes na loteria, em uma semana" :: ver site da Globo em g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL83387-5598-834,00.html (digitar o "http://", sem as aspas)
-Link para o vídeo "Sortudo ganha 2 vezes na loteria, em uma semana"
Casos semelhantes ao ocorrido no item 6, acima, não são assim tão incomuns, embora raros. Se vocês pesquisarem na internet vão achar muitos. E agora? Pode-se dizer que o resultado foi fruto da ação do agente? Será que ele provocou isso?
Há um outro caso mais antigo de um brasileiro (este eu não posso dar o link porque não localizei) que ganhou sozinho na loteria esportiva – no tempo em que o prêmio era compensador – e foi passear em Las Vegas. Na primeira noite, em um dos cassinos, tirou o prêmio acumulado em uma das máquinas, de maior valor do que o que ele havia ganho. Pela última notícia que tive, estabeleceu-se nos Estados Unidos, sendo um dos maiores criadores de gado da sua região.
Finalizando, um outro caso, exibido no Programa do Jô, há cerca de 3 anos da data deste ensaio, mostrava um rapaz acostumado a ganhar em rifas, promoções e sorteios. Teria ganho 16 (dezeseis) vezes e ajeitou a sua vida e da sua família, principalmente a da mãe, para quem comprou uma casa nova. Isso é ou não é sorte?
Sorte e azar podem ser mudados por nossas ações?
Desmistificando e contrariando a maioria dos pesquisadores, entendo que NÃO. Absolutamente, sorte e azar não podem ser mudados, porque independem da nossa vontade. Sorte é sorte, azar é azar e pronto. Não se pode prever se e quando vai ocorrer e nada podemos fazer para modificar. Lamento se decepcionei alguém e gostaria até que me provassem o contrário. "Por favor, prooooovem-me que estou errado! Eu também gostaria de poder influenciar na minha sorte".
Já se a pergunta se referir à possibilidade de, por nossas ações, obter-se rotineiramente resultados favoráveis ou negativos, a resposta é SIM. Por exemplo, se você toma sucessivas decisões erradas, a tendência é que colha resultados negativos. Por outro lado, se é cauteloso, persistente e escolhe sempre as melhores opções, a tendência é obter sempre resultados positivos, desde que não ocorra o imponderável. Mas tanto num como noutro caso, não se pode chamar esses resultados de "sorte" ou "azar", por serem considerados "normais".
Se você se dedica no seu emprego, estuda, procura respeitar as normas da empresa, dar sugestões ou soluções que contribuem para o aperfeiçoamento e crescimento da organização, quando for promovido a um cargo de diretoria ninguém poderá dizer que foi "sorte". Se você desperdiçou as boas oportunidades que se lhe apresentam ou não sabe identificá-las quando presentes, jamais poderá reclamar se nunca progredir.
Literatura sobre o assunto
É impressionante a escassez e a má qualidade da literatura existente sobre o assunto, pelo menos, nos 4 idiomas em que pesquisei. Por isso, não recomendo nenhuma, à exceção do livro The Luck Factor ( Fator Sorte), de Richard Wiseman, assim mesmo como livro de autoajuda. Por incrível que pareça, a melhor matéria que li sobre isso, melhorr até do que todo o livro de Wiseman, foi a do médico psicoterapeuta brasileiro, Flávio Gikovate, em seu excelente artigo "Você acredita em sorte ou azar?", que segue mais ou menos a nossa mesma linha de pensamento. Sou um pouco suspeito para falar porque sou seu admirador incondicional, mas recomendo que leiam e tirem as suas próprias conclusões.
A matéria está pronta. Mesmo sem ser filósofo profissional ou qualquer autoridade no assunto, emiti a minha opinião. Como tenho interesse na resposta, deixo o desafio para que alguém me prove que sorte, azar e imponderável não existem. E se quiserem advogar que existem, tentem definir o que é e como funcionam, pois parece-me que até agora ninguém o fez.
E só para finalizar: não me considero uma pessoa de sorte, mas também não totalmente sem sorte. Acho que estou dentro da normalidade, mas tenho por hábito ser persistente, descobrir e correr atrás de oportunidades que, aliás, teimam em não aparecer. As pouquíssimas que apareceram eu as agarrei, com unhas e dentes. Mas escassearam ou têm passado muito longe do meu alcance.
Presentemente, desenvolvi uma metodologia e alguns programas de computador para analisar e indicar jogos da Lotofácil e da Lotomania. Ganho e perco, por enquanto, mais perdendo do que ganhando. Mas adepto da tecnologia informática, fã da matemática e da estatística (estudo de desvios, médias, intervalos e cálculos de probalidade, interagindo com a Lei dos Grandes Números), acredito que vou chegar lá. Jogo (ou melhor, "invisto") uma média de R$ 300,00 (trezentos) reais por semana, há dois anos, não deixando de jogar uma única semana.Chamam-me de louco, irresponsável, recebo críticas e gozações e não falta alguém para dizer-me que se guardasse ou aplicasse todo o dinheiro que gastei, teria hoje quase 40.000 reais. Agora pergunto: e daí? Vou continuar sendo criticado, mas quando ganhar, em 24 horas recupero tudo o que investi e ainda fico com um lucro líquido de aproximadamente 666%. Que investimento me daria esse retorno em pouco mais de dois anos?
Se no dia em que eu ganhar algum FDP vier dizer que foi "sorte", mando para a PQP! E se vierem perguntar pelos meus métodos e o programa de computador que utilizei, responderei: "Ele não serve para qualquer pessoa e, principalmente, se não estiver disposta a investir R$ 1.200,00 por mês, o que certamente é uma imprudência". Mas eu tive coragem para cometê-la.