Ivo S. G. Reis - Artigos, Poesias, Ensaios, Aforismos, Contos e Crônicas
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Textos

Qual a idade da Terra: 6.000 anos (Bíblia), 4,56 bilhões de anos (Ciência) ou ninguém sabe?

É pacífica (hoje) a aceitação de quase toda a comunidade científica de que a idade da Terra seja de, aproximadamente, 4,56 bilhões de anos. Está certa a Ciência? Muito provavelmente não, porque a idade da Terra, calculada pela ciência, já foi mudada várias vezes, até aqui sempre para mais, à medida que novos e mais rigorosos métodos eram aperfeiçoados. E em ciência todas as "verdades" só são relativas, até que uma nova verdade seja estabelecida e que, por sua vez, será também relativa. Pelo menos, em ciência existe humildade e honestidade intelectual, já não se podendo dizer o mesmo das religiões, infelizmente.

Assim, em função da minha natureza cética, da mesma forma como não posso aceitar a idade da Terra preconizada pela Bíblia (6.000 anos, um verdadeiro absurdo) não posso aceitar mansamente a idade aproximada de 4,56 bilhões de anos, sugerida pela ciência. E tenho minhas razões para isso, apesar de ser leigo no assunto.

 

O que diz a Bíblia sobre a forma e a idade da Terra?

Segundo os escritos bíblicos, acreditava-se que a Terra era plana, tinha cantos e limites e que havia sido criada há aproximadamente 6.000 anos (e  esta era a idade que os cristãos realmente acreditavam). Isso se infere facilmente dos exemplos explicativos abaixo:

"A Bíblia cita várias vezes os “extremos” da Terra. Às vezes a palavra em hebraico é ephes, que significa “fim, limites extremos,  nada”. Em outras vezes, é qatsah ou qetsev, que significa, de novo, “final, extremidade.” Em Deuteronômio 13:7, é usada a expressão “de uma extremidade da Terra à outra extremidade.” As mesmas referências ao “final da Terra”, ocorrem em: Deuteronômio 28:49,64; 33:17; 1 Samuel 2:10; Salmos 19:4; 22:27; 46:9; 48:10; 59:13; 65:5; 67:7; 98:3; 135:7; Provérbios 17:24; 30:4; Jó 28:24; 37:3; Isaías 5:26; 24:16; 40:28; 41:5; 42:10; 45:22; 48:20; 49:6; 52:10; 62:11; Jeremias 10:13; 16:19; 25:33; Miquéias 5:4. Não apenas a Bíblia indica que a Terra é plana e tem extremos, mas também ensina que tem cantos. Isaías 11:12 diz que Deus vai “reunir os dispersos de Judá dos quatro cantos da Terra.” Ezequiel 7:2 diz que “o fim está próximo nos quatros cantos da Terra.” Citações também existem no Apocalipse 7:1; 20:8, etc."

E não adianta virem os crentes, teóricos e teólogos defender os escritos bíblicos, dizendo que isso é "erro de interpretação" porque os considerados "pais da igreja", como Lactâncio, Tertuliano e Clemente de Alexandria, acreditavam piamente nisso, como já se comprovou.

Sobre a idade da Terra segundo a Bíblia, vejam o que diz o Arcebispo Ussher, que em 1650 publicou um documento sobre a idade da Terra, baseado nos chamados "textos sagrados".

Segundo a Bíblia, a idade de nosso planeta seria a seguinte:

  • Da criação até o dilúvio – 1656 anos
  • Do dilúvio até Abraão – 292 anos
  • Do nascimento de Abraão até o êxodo do Egito – 503 anos
  • Do êxodo até a construção do templo – 481 anos
  • Do templo até ao cativeiro – 414 anos
  • Do cativeiro até ao nascimento de Cristo – 614 anos
  • Do nascimento de Cristo até os tempos do Arcebispo Ussher – 1650 anos
  • Total = 5610 anos

Ora, estamos em 2011 (época em que foi escrito este texto). Portanto, se somarmos 361 anos aos números do Arcebispo Ussher, concluímos que a idade da Terra atual seria de aproximadamente 6.000 anos ou 5.971 anos, mais precisamente. Está certa a Bíblia ou isto é mais uma das suas gritantes falhas e inconsistêncas? Que respondam os teólogos e crentes de plantão!

CriacionistasdaTerraJovem_L280.jpgUma das mais absurdas e desesperadas respostas que já ouvi, dada por próceres cientistas cristãos, foi a de que Deus teria criado a Terra em dois estágios: no primeiro, os minerais; no segundo, a vida (???). Sobre os dinossauros, dizem que a ciência não pode provar a época exata em que teriam existido e que eles sim, têm provas de que homem e dinossauros coexistiram (apresentam umas pinturas estranhas, meio amorfas e uns supostos fósseis que engendraram).

O que dizem os religiosos e criacionistas, defensores da "Teoria da Terra Jovem"?

Como esse assunto incomoda os religiosos, era natural que eles buscassem explicações para essa grande diferença de afirmações. Com esse afã, chegaram a criar o "The Young Earth Creation Club" (Clube de Criação da Terra Jovem) e procuraram trazer para ele cientistas que pudessem reforçar suas falsa teorias, ou seja, a de que a Terra é mais jovem e que poderia sim, ter entre 6 a 10.000 anos (claro, isso faria com que coincidisse "mais ou menos" com o que diz a Bíblia). E não é que eles tiveram essa cara-de-pau? Foi assim que se tornaram públicos os 14 argumentos pseudo científicos, elaborados por um físico chamado David Russel Humpreys, amplamente divulgados e com estardalhaço, e que em um dos seus argumentos dizia:

"Cristais de zircônio contêm urânio que, pelo decaimento radioativo, produzem hélio. Quando se mede o hélio liberado pelos cristais de zircônio chega-se a apenas 6.000 anos, pois se fossem mais antigos, conteriam menos hélio.”

Mas o que pouca gente sabe, até porque eles não alardeiam isto, é que esse "cientista" cristão é  professor do Institute for Creation Research, trabalha no Creation Ministries International e é da diretoria do Creation Research Society. Diante disso, como confiar que suas pesquisas não estejam dirigidas para chegar-se aonde eles querem? Pesquisas "por encomenda" também são feitas pela ciência, sabiam?

A prova disso é que existe um outro famoso físico-químico australiano, criacionista, o Dr. Jonathan Sarfarti (Ph.D Fisical Chemistry) que segue um caminho semelhante ao de David Russel Humpreys, confirmando algumas de suas teorias. O detalhe é que, como primeiro, ele também é um cristão criacionista. Conluio? Em se tratando de religiosos desesperados para validar a Bíblia e manter a religião em alta, tudo é possível.

Este "cientista", além de confirmar a teoria acima, nos dá mais esta, que também corrobora uma igual de Russel Humpreys:

" O campo magnético da Terra tem vindo a decair tão depressa que nunca poderia ter mais do que 10.000 anos. Reversões aceleradas durante o Dilúvio de Noé - e flutuações ocorridas pouco depois - fizeram com que o campo magnético decaísse ainda mais depressa" (fonte: Darwinismo, a Bíblia e a Ciência contra o Darwinismo)

 


Conclusão:

Bem, pessoal, paro por aqui e recomendo que pesquisem o assunto. O que se viu e o que sempre se vê, são historiadores e cientistas "cristãos" querendo distorcer os fatos, sejam eles científicos ou históricos. Segundo a Bíblia, qualquer fóssil que a ciência tenha datado como tendo mais de 10.000 anos, está com a idade errada ou é falso, porque nada pode existir neste nosso planeta, com idade superior a esta, já que nem a vida e muito menos o planeta existiam. Como conseqüência, quando a ciência diz terem existido os ancestrais do homem, o australopithecus, o homo habilis, o pithecantropus erectus, o homo neanderthalensis, o cro-magnon e o homo sapiens, deve estar errada também porque o mais novinho deles data de  150.000 anos a.C e o mais velho 2,5 milhões de anos, tudo isso impossível, de acordo com a Bíblia. E se considerarmos que antes deles existiam os mamíferos, a coisa fica pior ainda. Depois de tal petulante "certeza bíblica", falar o quê? Só mesmo os crentes para acreditar.

 

Quanto a mim, diante de tudo o que já li e pesquisei, minha posição é de que nem a Ciência, nem a Bíblia, sabem a idade da Terra. Ciência que produz uma teoria que admite uma margem de erro superior a 10%,  invalida a sua própria teoria, tornando-a inconfiável. Mesmo assim, entre os 6.000 anos da Bíblia e os 4,56 bilhões de anos da Ciência, fico com qualquer valor acima dos 65 milhões de anos e abaixo dos 4,56 bilhões. Já que ninguém sabe, é uma posição leiga, porém mais sensata, até que se prove com mais segurança uma idade mínima, que não admita questionamentos.

 

Uma coisa, porém, considero certa: A Terra não tem apenas 6.000 anos, como diz a Bíblia, ainda que se alegue que a Ciência está errada (como provavelmente está). Quem puder provar que esta afirmação está errada, que prove!


Atualização, em 08/11 2021:

Revendo o texto desde a sua publicação, verifiquei que de lá para cá nada precisava ser alterado (ainda) com relação aos números e conteúdos. Entretanto, após ler os 623 comentários existentes até esta data, constatei que um dos argumentos dos crentes mais fanáticos - talvez o mais recorrente de todos - é o de que "para Deus um dia é como se fossem 1.000 anos, conforme 'está na Bíblia' ". Por isso, e para não ser repetitivo explicando, e até mesmo para ver se eles desistem de invocar esse troncho e inválido argumento, resolvi fazer uma atualizaçao e explicar.

 

De fato, diz a Bíblia, em "2 Pedro 3:8":

 

"[...] Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia." (2 Pedro 3:8 )

 

Uma das duas primeiras objeções (ainda que não maioritárias) nas cartas de Pedro, dito "apóstolo de Jesus", refere-se à autoria e às diferenças de estilo entre as cartas, escritas em estilo culto, ora com o nome de Pedro, ora com o nome de Simão Pedro. Alega-se que sendo Pedro um homem do povo e de pouca instrução, não poderia ter escrito aquelas cartas, supondo-se, assim, que tenha sido auxiliado por alguém que não se sabe quem (aliás, como quase tudo na Bíblia).  Mas vamos deixar essas questiúnculas de lado e supor que o próprio Deus tenha "ditado as cartas para Pedro". Então,  ou Pedro entendeu errado o que Deus disse, ou Deus errou nas contas, ou nem uma coisa e nem outra e são os crentes fanáticos de hoje que não sabem fazer contas e/ou querem distorcer o que está nas cartas (hipótese mais provável).

 

Prosseguindo, vamos ser generosos e admitir que Deus exista, que tenha ditado as cartas,  que eles estejam certos, e que "um dia para Deus é como se fossem mil anos". Então, vamos fazer as contas propostas no tão recorrente e "famoso" argumento, que pretende derrubar as teorias que defendemos:

 

 

De notar que à época em que este versiculo teria sido escrito por Pedro (60 a 65 DC) era muito forte a crença de que   o mundo se extinguiria no sexto milênio após a sua criação. Só isso já seria suficiente para justificar a introdução do versículo. Mas não vamos adentrar nessa discussão aqui, para não alongar o artigo e porque escapa aos seus objetivos.  O que se deve destacar é que mesmo considerando o versículo como verdadeiro e fazendo as contas de acordo com as instruções e valores divinos, as contas nem de perto se aproximam daquelas formuladas pela ciência, porque sequer conseguem alcançar a casa dos "bilhões".

 

Ora,  a ciência diz que a idade da Terra é de 4,56 bilhões de anos (eu disse bilhões, e não milhões). Então o argumento dos crentes não procede, mesmo aceitando o que está na Bíblia. Só a extinção dos dinossauros - mais "próximo" de nós e já cientificamente comprovada, tem 65 milhões de anos. E não se stá contando aqui o tempo anterior a eles. Portanto, a Bíblia (ou Deus, ou os crentes) continuam  sem argumentos. Podemos ter argumentos válidos com conclusões inválidas, mas a recíproca não é verdadeira. Portanto, a principal e preferida arma de defesa dos crentes não serve e não deve ser mais utilizada.

 

Após as explicações, é de se esperar que o falacioso argumento religioso"um dia para Deus é como se fossem mil anos", não seja mais invocado, para evitar o loop infinito de debates sobre um mesmo tema já esclarecido.

 

Sobre os novos métodos de avaliação da idade da Terra... (at. de 09/11/2021):

 

É recomendável aos interessados no assunto que façam leituras constantes de atualização. A ciência está sempre revendo seus cálculos, o que é da sua essência, ou seja: desconfiar até de si mesma e considerar todas as suas verdades e paradigmas como provisórios, até poderem ser derrubados e colocados outros em seu lugar, segundo recomenda Thomas Kuhn (1922-1996), filósofo da ciência, que estudou como se formam e se alteram ou morrem os paradigmas científicos.   O paradigma da ciência, "hoje aceito", é este e é somente uma teoria com estimativa: "a idade da Terra é de 4,56 bilhões de anos". Mas até quando vai durar?

 

James Hutton (1726-1797)¹, geólogo e químico escocês, é considerado o "pai da geologia moderna". Foi ele quem, observando os afloramentos de rochas na Escócia, "concluiu que a Terra tinha uma idade extremamente alta, cotrariando o pensamento vigente à época" (Hutton, James, Wkipédia). Mas as primeiras especulações científicas aceitas sobra a idade da Terra podem ser atribuídas ao físico Lord Kelvin (1824-1907), em 1862 . Ele mesmo reviu seus cálculos duas vezes, antes de chegar a um terceiro (1897), que estimou essa idade entre 20 milhões - 40 milhões de anos, tornando públicas suas teorias em 1900.   Outros pesquisadores surgiram e a ciência já reviu suas posições pelo menos meia dúzia de vezes e hoje chegou à casa dos bilhões, os atuais 4,56 bilhões de anos, calculada por "datação radiométrica de meteoritos". Essa será a última estimativa? Provavelmente não. Elas têm sido alteradas, para mais ou para menos, ao longo do tempo. Mas retroceder a menos de 65 milhõs de anos é uma hipótese absurda.

 

Para além do Carbono-14...

 

Assim como a datação por Carbono-14 revolucionou a ciência geológica no início do século XX, novos métodos estão surgindo e é bem provável que a ciência revise suas posições, de novo, para cima ou para baixo. Hoje já se coloca em xeque a datação por Carbono-14, por considerá-la pouco confiável, para idades superiores a 40.000 anos, obrigando a aumentar a taxa de margem de erro (+/-),  para além dos 10%.  Por outro lado, a datação radiométrica de meteoritos, de forma isolada, já não é mais considerada suficiente e segura.  Em seu lugar, usam-se agora, de forma combinada, a Geocronologia, a Estraticografia  e a Paleontologia. Segundo  matéria da  National  Geographic este estudo não para, é algo complexo e constante, até se determinar o verdadeiro número de anos." (grifos meus)¹2

 

Sendo assim, não devemos nos surpreender se a idade da Terra vier a ser novamente revisada, para cima, ou até mesmo para baixo, considerando que a ciência aprende, não só com as novas descobertas, mas também e principalmente, com os seus erros de pesquisa, estando sempre disposta a rever suas posições. Alguém arrisca cravar e justificar um palpíte?

 

 

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Nota: Por não se tratar de um artigo acadêmico, e sim de um artigo literário de opinião,  citações e referências que tornam o texto de pesada leitura, foram evitadas ao máximo. As conclusões a que cheguei foram obtids através do sintecletismo (síntese de conhecimentos ecléticos sobre o mesmo assunto, obtidos de fontes diversas, onde quer que ela se encontrem).

(¹ ) : Obras sobre o assunto: "Theory of the Earth" (1788); Theory of the Eart, with Proofs and Illustratons (1795) 

(*2): Ver, em National Geographic,  artigo "Geocronologia - Qual é a Idade da Terra", disponível em: <https://www.natgeo.pt/ciencia/2019/05/geocronologia-qual-e-idade-da-terra>.

Ivo S G Reis
Enviado por Ivo S G Reis em 14/11/2011
Alterado em 11/11/2021
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