As “fake news” do governo sobre a reforma da Previdência, sobre os orçamentos, ações governamentais e políticas públicas
Ao contrário do que se pensa, nas chamadas “fake news”, a única novidade que se tem é só a roupagem e a ampla difusão e popularização do termo, alicerçadas pela
velocidade da internet e dos meios de comunicação. Mas a prática sempre existiu, desde que o homem começou a se comunicar. Já existia antes de inventar-se a escrita, por transmissão oral; já existia no Egito e na Grécia Antiga; já existia nos tempos bíblicos (aliás, a Bíblia é farta de exemplos, ora alertando, ora ela mesma as usando, começando pelo mito da criação e de Adão e Eva e prosseguindo em vários livros e versículos).
Seu uso mais comum é, disparadamente, em política, mas as áreas militares, econômicas e comerciais também as usam bastante, segundo dizem, “por questões de segurança, mercadológicas e estratégicas”. Sim, de fato, isso é o que se constata no dia a dia. Mas justifica-se? Quem defende a parte lesada? E que dizer se os encarregados de defender os lesados são os próprios produtores das notícias? Em política, por exemplo, isso é o que mais se verifica. O governo espalha falsas notícias para justificar suas medidas e os prejudicados têm de recorrer ao próprio governo para defender-se. E ai, o que acontece?
Neste artigo, vamos nos restringir a comentar, resumidíssimamente, apenas as falsas notícias políticas e econômicas, por serem as que nos interessam de momento. Claro que essas notícias existem em profusão em outras áreas, em especial, no comércio, na propaganda e no marketing. Mas a elas não vamos nos ater porque, se o fizéssemos, um simples artigo não bastaria.
Antes de iniciar, vamos convencionar que quando nos referirmos ao “governo”, estaremos nos referindo não apenas à Presidência da República, mas a quaisquer das autoridades que representem oficialmente o governo e que falem em seu nome, divulgando releases, notícias, declarações, balanços, números, estatísticas, etc. Segue daí que deputados, senadores, ministros de Estado, diplomatas, técnicos governamentais de primeiro e segundo escalão, para nós, tudo é governo, desde que em seu nome se pronunciem.
Por que os governos mentem, desinformam ou omitem informações?
Em política, e desde que não se esteja sob um regime totalitário ou autocrático, governos precisam do apoio popular e de conquistar, assim, a opinião pública interna e internacional. São raros aqueles que governam com transparência e honestidade. Então, dá para generalizar que todos os governos mentem, distorcem, desinformam ou omitem informações. O que varia é a intensidade com que fazem isso. Quanto mais próximos dos anseios populares, menor será a intensidade. Quanto mais distantes, maior será o festival de mentiras e o mau uso da informação.
Em medidas impopulares, é preciso fabricar o consenso na opinião pública, preparar o terreno, antes de soltar medidas mais duras contra a população. Um grande exemplo dessas práticas, no governo atual, é a propaganda institucional de apoio à “reforma da Previdência”.
Por três anos consecutivos, a população vem sendo bombardeada com a propaganda governamental, focando na necessidade da reforma, sob a alegação que a Previdência Social é deficitária e que está quebrando o país, causando o desequilíbrio fiscal. Nada mais mentiroso. Mas com essas mensagens repetidas exaustivamente, todos os dias, em todos os lugares, em todos os veículos de comunicação, sendo replicadas na propaganda boca a boca, até os que duvidavam e eram contra, passam ou a ter dúvidas ou mesmo a apoiar a famigerada reforma, com receio de que, em ela não sendo feita, aconteçam as desgraças que o governo anuncia em terrorismo psicológico.
A pergunta a ser feita é: por que as pessoas acreditam e não se dispõem a investigar e checar as notícias? É aí que reside a nossa estranheza e o nosso inconformismo. Esse é o fenômeno a ser estudado, até porque não acontece só no Brasil. Nos Estados Unidos, Donald Trump é o maior exemplo. Mente contumazmente e esta parece ser a sua maior marca de governo (o Twitter que o diga).
Segundo o jornal
Washington Post e conforme referenciado pelo jornal “O Globo” (sim, é isso mesmo, “O Globo”), o presidente Trump “
desde o início do mandato já divulgou mais de dez mil informações falsas ou distorcidas”. Ora, Trump é o ídolo de Bolsonaro, que procura imitá-lo em tudo que pode. Então, não é de estranhar que ache uma boa prática política twittar e disseminar fake news. Mas Trump é imbatível em assiduidade e quantidade de notícias. Já virou um especialista. Bolsonaro tenta seguir o mesmo caminho.
De acordo com a agência de checagem de notícias “Aos Fatos” (
https://aosfatos.org/), especializada em mapeamento de redes sociais e meios de comunicação, em apenas 68 dias de governo, Bolsonaro já tinha dado 82 declarações falsas. Quantas serão até hoje, só as dele, sem contar as dos filhos? Não nos preocupamos em ir atrás dessa informação porque sabemos que elas aumentaram. E se não tivessem aumentado, esse número seria hoje, no mínimo, 217 fake news, só do presidente Bolsonaro. Se somarmos às dele as do Paulo Guedes, as do Rogério Marinho, as do Rodrigo Maia, as dos seus ministros e parlamentares aliados, esse número passa facilmente das 2.000
fake news, em seis meses de governo.
Algumas fake news de Rodrigo Maia, sobre orçamentos e reforma da Previdência
Sobre Bolsonaro, vamos evitar falar mais, porque já vimos que, tal como Trump (seu ídolo), ele é um mentiroso contumaz. Vamos nos fixar, apenas a título de exemplo, em algumas mentiras de Rodrigo Maia, que já foram checadas por algumas agências de “fact-checking” e outras. Até nós mesmos fizemos essas checagens, através de cruzamentos de fontes diversas. Vamos citar três exemplos. As fake news publicadas abaixo, nenhuma delas respondidas pela assessoria de Rodrigo Maia, foram produzidas pela Agência Lupa (fonte e link nas imagens):
Em todas essas declarações noticiadas nos jornais, o deputado, quando instado a justificá-las, simplesmente ignorou os pedidos. Silêncio total, porque convém. Se as fake news já estão circulando, por que interrompê-las ou coloca-las sob suspeição? Enquanto isso, as notícias já estavam veiculadas e surtindo efeito. E é assim que as coisas funcionam. A mídia comprometida jamais irá questionar tais notícias. Muito pelo contrário, irão até ajudar a disseminá-las. Somente a mídia alternativa se atreve a fazê-lo, mas quando tenta... “Respostas” desse tipo, invariavelmente, são as que recebem.
Supomos que o leitor já sabe que os governos mentem; já sabe que a grande mídia mente, em conivência; já sabe que o governo também produz fake news e já sabe os porquês. O que o leitor provavelmente ainda não sabe é o que motiva esta ou aquela notícia falsa ou desinformação, como são fabricadas, quais são elas, o que determina as prioridades, como são divulgadas as falácias e omitidas ou distorcidas as verdades e quais os entes envolvidos.
Exatamente isso é o que está demonstrado no livro ao lado, não só em relação à reforma da
Previdência, mas em relação às ações de governo. E você pode baixar gratuitamente este e-book, através do link:
Não é possível aprofundar-se no assunto no simples espaço de um artigo. Mas no livro você terá 172 páginas para inteirar-se e não mais se deixar enganar.