Ivo S. G. Reis - Artigos, Poesias, Ensaios, Aforismos, Contos e Crônicas
Temas Instigantes
Aqui se encontra parte da matéria-prima dos meus livros, publicados e não publicados
Capa Meu Diário Textos E-books Fotos Perfil Livros à Venda Livro de Visitas Contato Links
Textos

Bíblia?...As mentiras começam quando alguém diz que a leu por inteiro. Confira!

É certo que "quase" todas as regras têm as suas exceções e isto é ponto pacífico. Por exemplo, se eu disser: "a regra nascer, viver e morrer" não admite exceções", aparecerá alguém para dizer "É, mas você pode morrer antes de nascer ou ser um nati-morto que nasceu e morreu sem viver". Aí, querendo me defender eu poderia retrucar: "Ok, então a regra tudo que é vivo morre, esta não admite exceção". Ainda assim, apareceria alguém para dizer "Morre não, se transforma", segundo Lavoisier. Se eu, supondo que fosse dar um golpe mortal, dissesse: "Tá bom, tá bom, mas 2 mais 2 são 4 e esta regra não admite exceção",com certeza alguém rebateria: "Depende. Isto é apenas uma convenção matemática, aplicada ao sistema numérico decimal. Em outros..." E a discussão iria longe.

Vemos que estamos dentro de uma discussão filosófica onde eu, já p. da vida, diria: "Se você não for uma múmia, estiver vivo, sem camisa, e um assaltante lhe enfiar metade de um facão na barriga você sangra", acho que esta regra não admite exceção, certo? Talvez, aí, eu conseguisse calar as pessoas.

Então, só para argumentar, vamos admitir como verdadeira a afirmação "Quase todas as regras têm exceção". Vamos admitir também , e como conseqüência, que a maioria nem sempre tem razão. Pronto! Até aqui, pelo menos, já chegamos a um acordo. Agora vamos ao tema deste artigo:

Sem citar as fontes, por ser irrelevante ao caso e porque são muitas, estudos ( o mais técnico o dos americanos) demonstram que as pessoas não gostam de ler a Bíblia em letras pequenas e que o tempo médio que levariam para ler a Bíblia inteira, com reflexão mediana, do Gênesis ao Apocalipse - se lessem 3 páginas por dia, ininterruptamente e sem dias de descanso - seria de 360 dias, ou 1 ano, arredondando. Provaram também que o tempo mínimo para ler a Bíblia, apenas pausadamente, para uma pessoa obstinada e com um plano de leitura, seria de 90 dias, desde que, lesse 12 páginas por dia, sem dias de folga, e com letras grandes. Note-se que as pesquisas se referem a leituras sem exegeses, porque o tempo destas seria muito variável, dependendo do grau de profundidade onde se pretendesse chegar. Você conhece alguém que tenha conseguido essa façanha? Possivelmente, por "dever de ofício", e apenas por isso, algumas poucas pessoas devem tê-lo feito. Mas o mortal comum?... Não ponho a minha mão no fogo nem pelo Papa.

Quanto a mim, lembro-me que da primeira vez que me dispuz a ler a Bíblia inteira, mas sem método algum, levei 3 anos. Depois, muito depois, retornava e passava a ler de novo, tentando entender melhor e interpretando somente as passagens sobre as quais tinha dúvida ou que me chamavam a atenção. Continuei fazendo isso até recentemente, porque sobre quase todas as partes eu tinha dúvidas que me enlouqueciam e ninguém respondia. Nem aqueles que, teoricamente, deveriam saber respondê-las.

Daí, resolvi fazer um teste entre os amigos religiosos, crentes e alguns de seus líderes - sem as pessoas saberem - e vi que não eram só as pessoas comuns que não tinham lido a Bíblia inteira e não sabiam explicá-las, mas também fiéis de várias correntes religiosas, padres, pastores, "bispos", obreiros, apóstolos, missionários, "Testemunhas de Jeová", etc. Percebi claramente que aquelas pessoas mentiam quando eu lhes aplicava alguns testes, discreta e sub-repticiamente. Mas uma coisa havia em comum entre elas: todos acreditavam fervorosamente em Deus, Cristo, na Bíblia e nos Evangelhos. 

Quando, no fim, eu abandonava a discrição e começava a apontar as contradições bíblicas, dizendo não acreditar, elas me aconselhavam: " Aleluia! Sem você saber, Jesus já começou a te tocar, mostrando o caminho das escrituras. Abra o teu coração para Jesus! Leia e estude a Bíblia e Ele se revelará." Com pequenas variações, era sempre mais ou menos isto o que me diziam.

Curiosamente, a maioria dos ateus, céticos e agnósticos, quando procedi da mesma forma, também não tinham lido a Bíblia inteira, mas certamente tinham lido muito mais e revelavam um conhecimento bem maior do que os do outro grupo . Eles também me aconselhavam a estudar os livros sagrados e até outros, só que no sentido inverso: para detectar as mentiras e contradições bíblicas e poder defender-se dos seus detratores, que sempre vão existir. O argumento dos religiosos é que os céticos e os sem-fé não conhecem ou não entendem a "palavra de Deus". Não só participei, como assisti a alguns debates entre esses grupos e, adivinhem quem revelou maior conhecimento?

Percebi nessas discussões e também em tudo que pacientemente pesquisei, que da Bíblia e dos Evangelhos, pode-se dizer com certeza apenas que são livros escritos "aproximadamente" entre os anos 1250 aC e 100 dC, refletindo uma coleção de mitos e lendas sem valor histórico, não se sabendo quantos nem quem são os seus verdadeiros autores. Aliás, sobre autoria e os pretensos "milagres" de Cristo é onde reinam as maiores controvérsias. Nem mesmo dos 4 evangelhos aceitos pela Igreja, os 3 sinóticos mais o de João (de João?), pode-se dizer com certeza de quem é a autoria. Talvez nem Sua Santidade, o Papa, saiba. Por isso a Igreja, malandra e cuidadosamente os denomina "Evangelho segundo...". Tudo nesse terreno é hipotético, nebuloso, duvidoso. Os críticos e estudiosos, ao se referirem à Bíblia têm por tempos verbais mais empregados o futuro do pretérito (poderia, teria, seria, etc) e o futuro do presente composto (teria sido, teria louvado, teria nascido, etc). Os advérbios e locuções (provavelmente, supostamente, aparentemente, talvez, por volta de, por certo, quem sabe, etc,) também são profusamente empregados. Por quê? Dificuldade de se comprovar pelo decurso de dois mil anos? Certamente que não. Sócrates, falecido em 399 aC, tem uma história de vida muito parecida com a de Cristo, em alguns pontos: "pregava para seus discípulos ao ar livre, nada deixou por escrito, foi condenado por um tribunal em Atenas (Grécia) e morto por se recusar a abdicar de suas idéias".  No entanto, ninguém duvida de sua existência nem dos seus pensamentos, imortalizados por seus discípulos.

Filósofos de antes da era Cristã (Confúcio, Aristóteles, Platão e tantos outros) têm a autoria de seus textos confirmados. Por que não os dos textos "sagrados"? Ah, é porque foram feitos por muitas mãos, diriam, mesmo sem saber de quem eram as mãos. Mas e os dos Evangelhos? Atribui-se um para cada suposto autor, só que não se tem certeza se cada um deles é o verdadeiro autor. Datas? Outra confusão. Mais uma vez: Por quê?

Diante disto (e sem citar minhas inúmeras outras justificadas razões, que serão motivo para outro artigo), criei minha própria (IR)RELIGIÃO e certa ou erradamente, cheguei à seguinte conclusão:

"Afora os estudiosos por "dever de ofício" (exegetas, cientistas e historiadores, por exemplo) ou por opção, como os filósofos, autodidatas, ateus, agnósticos, racionalistas e céticos em geral, as pessoas só lêem na Bíblia aquilo que lhes interessa, seja por preguiça mental, por incapacidade de compreender ou, o que é mais provável, para não pôr em dúvida a sua fé. O árduo trabalho da exegeses bíblica é deixado para seus líderes religiosos que, por sua vez, também só lêem as partes que lhes interessam. E assim todos se enganam e enganam a todos."

Falei e disse, se acertei, não sei. E vocês o que acham? Vão me chamar de herege, ateu, desinformado, possuído por Satanás? Já nem ligo mais.

 

Ivo S G Reis
Enviado por Ivo S G Reis em 03/04/2008
Alterado em 21/02/2011
Comentários